sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Obtusidades!!


Obtuso...Uma palavra forte, significativa.

Todo mundo que conheço deve ter uma opinião sobre o que significa ser uma criatura obtusa. Em geral, costuma-se atribuir tal alcunha a um ser sem noção, afetado, um sujeito que não tem modos, qualquer idéia, mesmo que vaga, das normas básicas da sociedade. Eu igualmente considerava serem essas as principais características de um ser obtuso. Costumava, inclusive, ser irônico comigo mesmo, atribuindo tal adjetivo a minha própria pessoa. O endereço desse blog, inclusive, é parte dessa ironia.

Porém, com base em minha experiência empírica de um ano, na cidade paulista de Franca, finalmente descobri um ser realmente obtuso, um espécime genuíno, quase intocável pela civilização moderna, apesar do sujeito vagar entre nós e utilizar aparatos tecnológicos para tentar se enquadrar entre os mortais comuns.

A descoberta se deu na pensão onde morei provisoriamente. O nome do espécime é João, mas logo, ao perceber seu elevado grau de obtusidade, eu e alguns colegas da Universidade de Franca, nomeamos o sujeito de Obtuso. Mas o que significaria ser obtuso? Essa questão precisa ser respondida aqui. Com base no comportamento do espécime observado, acho que posso dar umas dicas básicas sobre obtusidades...

Em primeiro lugar, cabe destacar que o Obtuso é um sujeito que conhece as normas sociais (tanto que o espécime em questão faz Direito na Universidade). A diferença dele em relação a nós é que ele simplesmente ignora tais regras. É um sujeito individualista ao extremo que vive no mundo e não com todo mundo. Não deseja, por livre vontade, ser sociável, estando constantemente inerte naquilo que talvez pudessemos denominar, seus pensamentos. Está, por escolha própria, alheio ao mundo e as outras pessoas existentes. Consequentemente, o espécime não comprimenta ninguém, passa reto pelas pessoas, podendo inclusive atropelar inocentes que se interponham em seu caminho. Na prática, um obtuso escolhe uma direção, visualiza toscamente o caminho a ser percorrido e se dirige diretamente para aquele caminho. Pobre do infeliz que se colocar nesse trajeto previamente escolhido pela mente primitiva do obtuso.

Mas o que mais marca um obtuso, o que define a essência fundamental de seu ser pouco complexo é sua capacidade de inverter todos os padrões de comportamentos conhecidos, mesmo aqueles mais simples.

Tecerei aqui alguns exemplos objetivos que observei pessoalmente. Nosso Obtuso em questão, jamais fecha as portas por onde passa. Pode ser de dia, de noite, de madrugada... As portas sempre ficam abertas, inclusive aquelas trancadas por medidas de segurança. O obtuso, faze questão de não utilizar quaisquer chaves, simplesmente arrombando qualquer porta trancada em seu caminho. Na prática, o Obtuso não se preocupa com coisas, que para ele são irrelevantes, como ladrões, bandidos, assassinos, estupradores de obtusos, etc. Simplesmente desconsidera a possibilidade de aguém se interpor entre ele e sua obtusidade. Pior do que isso, o Obtuso faz questão de fazer exatamente o contrário de qualquer norma de conduta.

Um exemplo: no polo computacional da Univeridade Estadual Paulista (UNESP), existem quatro salas com computadores, para livre uso dos estudantes. Duas salas são usualmente reservadas para a utilização de internet, ficando as outras duas reservadas para digitação de trabalhos acadêmicos. Isso foi estipulado em função das filas imensas de pessoas que precisam utilizar os computadores. Agora imaginem onde estava nosso Obtuso num dia em que se formaram filas enormes em frente ao pólo computacional... Estava digitando um trabalho acadêmico no local reservado para o uso de internet, sem nem mesmo se importar com a imensa fila do lado de fora. Pior, logo após digitar seu trabalho (se é que um obtuso tem condições de realizar tal emprendimento), ficou brincando no computador, num site dos Simpsons em que um idiota qualquer tenta se auto-representar de acordo com o traço artístico do famoso seriado da Fox. O funcionário do pólo até tentou educadamente dar uma indireta para nosso Obtuso. Algo do tipo... "Ei pessoal, tem pessoas na fila, por isso vejam se não fiquem brincando nos computadores".
Hehe... Foi esse o único som a sair dos lábios de nosso protagonista Obtuso.

Para finalizar, passando por um obtuso na rua, será possível se deparar com cenas insólitas de seu comportamento invertido. Se vocês virem um sujeito caminhando na rua falando inversamente no celular, esse pode ser um genuíno obtuso. Ah... não entenderam o que significa, "falar inversamente no celular"... Digamos que é levar o celular no ouvido esquerdo utilizando a mão direita... Se vocês tiverem dúvidas quanto a impossibilidade dessa ação ridícula, saibam que um obtuso possui meios para realizá-la... Eu mesmo já vi... Mais de uma vez. Nosso famoso Obtuso, sempre levava o celular na orelha inversa da mão que segura o aparelho. Não devemos nos preocupar com isso já que dificilmente o obtuso se comunica de forma clara, então... É melhor não nos preocuparmos com a passoa do outro lado da linha (até porque pode ser outro Obtuso).

Finalizo dizendo que em Franca, interior do estado de SP, finalmente descobri algumas obtusidades reais... Com isso mudei completamente minha visão sobre o que realmente significa ser um verdadeiro Obtuso. Quero enfatizar que não é a cidade que torna o sujeito um obtuso. No que me concerne, em Franca, há pessoas com baixo grau de obtusidade, na maioria das vezes sem nenhum grau. Nosso Obtuso veio, portanto, de fora... Talvez da obtusolândia.

11 comentários:

Fabio Rodrigues Vieira disse...

Sua pesquisa está de nível acadêmico, nunca houve uma tese séria sobre o assunto, com metodologia de pesquisa e estudo!

Marco Collares disse...

Isso aí. Essa era a intenção...

Fabio Rodrigues Vieira disse...

Apenas uma dúvida, qual metodologia vc usou, pos-moderno, marxista ou weisiana?

Marco Collares disse...

Olha, acabei utilizando a metodologia obtusiniana... Trata-se em tentar aplicar como método o próprio objeto de estudo. Fiz uma análise etnográfica, me transfigurando em um obtuso (o que não é difícil, dada a minha experiência)para melhor analisar o espécime em questão.

Goldfield disse...

Muito bom! Cabe ressaltar que o Obtuso, ao mexer no computador do pólo de informática, começou a contemplar uma foto enorme de si mesmo no PC, assustando a todos ao redor...

Creio que cidade obtusa seja "Obtusia" e não Obtusolândia... Mas isso só será provado ao se desvendar os anais da geografia obtusa...

Marco Collares disse...

Obtusiolânida é um parque de Obtusia... Realmente peço desculpas pelo grave erro.
Sobre ficar contemplando a própria foto, está aí uma informação nova.
Agradeço ao Fabrício pela informação.

Unknown disse...

Gostaria de salientar minha admiração por tão elaborado trabalho, uma vez que esta espécime apresenta um grau de obtusidade elevado, muito diferente dos encontrados no cotidiano.
Gostaria de saber se há um padrão de comportamento ou se apenas esse Obtuso apresenta estas características.

Marco disse...

Pelas minhas pesquisas, podemos dizer que há um padrão mínimo.
Algumas diretrizes básicas, mas cada obtuso mantém um certo grau de individualidade e subjetividade que ultrapassa qualquer tentativa, ainda que vaga, de homogeneização aprioristica.

Mariana Collares disse...

hahahahahhahahahahah


adorei.


a propósito, isso é sina ou tem cura?

bj

Jago disse...

Bah...

juro q quando li o texto imaginei o carlos no momento do "hehe" na sala de informatica brincando de simpsons...
teria sido o carlos um obtuso!?
se sim, creio q obtusidade tem cura!

Abraçao Sr. Cocolares

Rosi G.C. disse...

Querido desconhecido, mas célebre Marco...Amei sua interpretação do obtuso...Estava procurando algo que pudesse comparar ao que escrevi em um texto; vc simplesmente definiu o obtuso!
De uma forma muito original e engraçada( que nada tem a ver com os obtusos de plantão, vez com que muitos de nós, pouco ou nada observadores, pudessemos então assimilar verdadeiramente a característica destas pessoas com as quais convivemos sem ter dado nome a elas: os obtusos incorrigíveis...
Vou seguir teus textos: são de uma criatividade ímpar!
Um abração!
Obs: Freud perde, hein...